Neste domingo (28), 91 mulheres foram eleitas como deputadas federais, de acordo com levantamento da CNN feito com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral. O número representa 17,7% do total de 513 parlamentares.
Em relação às eleições de 2018, haverá cerca de 18,2% mais mulheres na Câmara em 2023. Naquele ano, foram 77 mulheres (15,01%) e 436 homens eleitos.
Candidatas mulheres foram as mais votadas em nove estados brasileiros: Bia Kicis (PL), no Distrito Federal; Daniela do Waguinho (União Brasil, no Rio de Janeiro, Caroline de Toni (PL), em Santa Catarina; Natália Bonavides (PT) , no Rio Grande do Nor Yandra de André (União Brasil), em Sergipe; Silvye Alves (União Brasil), em Goiás; Dra Alessandra Haber (MDB), no Pará; Socorro Neri (PP), no Acre; e Detinha (PL), no Maranhão.
Bia Kicis, reeleita, recebeu 214.733 votos, cerca de 49 mil votos a mais que o segundo colocado e mais que o dobro de 2018, quando foi eleita com 86.415 votos. Ela é apoiadora do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e preside a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Daniela do Waguinho ficou à frente, no Rio de Janeiro, do candidato do PL Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro. Ele teve a segunda maior votação.
A bancada feminina terá, pela primeira vez na história da Câmara dos Deputados, duas deputadas trans: Erika Hilton (Psol-SP) e Duda Salabert (PDT-MG).
Partidos com mais mulheres
A Federação Brasil da Esperança, composta pelo PT, PV e PCdoB, lidera na representação feminina. São 21 deputadas eleitas, sendo 17 do PT e três do PCdoB. A bancada tem o segundo maior número de cadeiras, 79 no total.
Já o PL, apesar de ter o maior número de cadeiras – 99 –, fica em segundo lugar na representação feminina, com 17 deputadas.
Outro destaque vai para o PSD, que de apenas uma representante passará a ter quatro em 2023.
Crescimento da representação feminina na Câmara
O percentual de mulheres eleitas para a Câmara dos Deputados aumenta a cada eleição. Em quatro eleições, de 2010 para 2022, a representação feminina cresceu 50%.
Em 2010, 8,77% dos eleitos eram mulheres; em 2014, foram 9,94%; em 2018, 15,01%; e, finalmente, em 2022, foram 17,7%.
Veja os números
- 2010 – 468 homens e 45 mulheres (8,77%)
- 2014 – 462 homens e 51 mulheres (9,94%)
- 2018 – 436 homens e 77 mulheres (15,01%)
- 2022 – 422 homens e 91 mulheres (17,7%)
O crescimento, no entanto, desacelerou entre a última eleição e a que aconteceu nesse domingo (2). De 2010 para 2014, foram seis mulheres a mais eleitas. De 2014 para 2018, foram 26 mulheres a mais. De 2018 para 2022, foram 14 a mais.
Nesta eleição, entrou em jogo uma nova regra do TSE que tenta aumentar a representatividade feminina na Câmara. A Emenda Constitucional n.º 111/2021 faz com que os votos em candidatas mulheres – assim como para pretos e pardos – tenham peso dois no cálculo dos fundos eleitoral e partidário das próximas eleições até 2030.
Candidaturas
Em 2022, concorreram ao cargo de deputada federal 3.716 mulheres. Completando o total de 10.629 candidatos, 6.907 homens disputaram as eleições para a Câmara.
Portanto, 2,44% das candidatas foram eleitas, contra os 6,10% dos candidatos que conquistaram o cargo.
O número de candidaturas femininas para a Câmara também tem apresentado crescimento a cada eleição. Veja os números:
- 2010 – 4.680 homens e 1.335 mulheres (22,1%)
- 2014 – 4.866 homens e 2.270 mulheres (31,8%)
- 2018 – 5.821 homens e 2.767 mulheres (32,2%)
- 2022 – 6.907 homens e 3.716 mulheres (34,9%)
Representação feminina na política
As mulheres são maioria no país. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados em julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 51,1% da população brasileira em 2021 era do sexo feminino.
O dado representa 4,8 milhões de mulheres a mais que homens no Brasil. Mas, apesar disso, o número de mulheres eleitas ainda está longe de espelhar a sociedade.
A coordenadora da área de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam Brasil, Tauá Pires, destaca que, para que a quantidade de candidaturas de homens e de mulheres se iguale, seguindo o ritmo atual, seriam necessários 144 anos.
O número é resultado da pesquisa divulgada pelo relatório “Desigualdade de Gênero e Raça na Política Brasileira”, produzido pela Oxfam Brasil e pelo Instituto Alziras. O documento analisa as eleições de 2016 e 2020 e foi lançado em julho de 2022.
Tauá Pires acrescenta que o relatório atesta que as candidatas têm maior nível educacional que os homens, ou seja, os homens não seriam escolhidos por serem mais competentes, mas, sim, por terem melhores condições de competir.
Para as eleições de 2022, 90,7% das candidatas mulheres tinham ao menos ensino médio completo, enquanto 89,17% dos homens estavam na mesma condição.
A participação das mulheres nos parlamentos é de 26,4% em média, segundo a União Interparlamentar (UIP), organização global que reúne 193 países.
Ranking da mesma instituição coloca o Brasil no 146° lugar na participação de mulheres entre os 193 países analisados. Na América Latina, Cuba e México tem melhores desempenhos, com 53,4% e 50% dos assentos parlamentares ocupados por mulheres. Os dados são de agosto de 2022.