O pastor José Olímpio, da igreja evangélica Assembleia de Deus de Alagoas, causou polêmica ao se manifestar contra a recuperação do ator e humorista Paulo Gustavo, 42. O fato motivou 30 entidades que militam pelos direitos LGBTQIA+ a repudiarem as palavras dele em uma carta aberta. Além disso, o Grupo Gay de Alagoas diz que vai entrar com uma representação contra ele no Ministério Público do estado.
O artista está internado há mais de um mês em estado grave na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital da zona sul do Rio de Janeiro. Ele teve complicações clínicas após receber diagnóstico de Covid-19, a doença causada pelo coronavírus Sars-Cov-2.
Em suas redes sociais, o pastor José Olímpio publicou uma foto em que o ator aparece caracterizado atrás de um crucifixo. Na legenda da foto, o líder religioso escreveu: “Esse é o ator Paulo Gustavo que alguns estão pedindo oração e reza. E você vai orar ou rezar? Eu oro para que o dono dele o leve para junto de si”.
A publicação de Olímpio, feita na última quinta-feira (15), ganhou grande repercussão e recebeu uma avalanche de manifestações de repúdio na internet. “Isso é uma pessoa que segue quem for, menos a Deus”, escreveu uma internauta. “Vamos divulgar para que esse crime chegue às autoridades”, disse outro fã do artista.
Organizações da sociedade civil que militam pelos direitos LGBTQIA+ também redigiram uma carta pública contra as palavras do pastor. “O ato criminoso de violência, praticado por este líder religioso, contra o ator Paulo Gustavo, que se encontra internado em virtude de problemas de saúde causadas pela Covid-19, problema sério de saúde pública e sanitária mundial, fere severamente não só Paulo, mas todas as vítimas da doença, a comunidade LGBTQIA+, classe artística e a todos os cidadãos de bem que tenham bom senso e sintam empatia por seu próximo”, diz um trecho.
Entre as 30 entidades que assinam o documento contra o líder religioso estão a Aliança Nacional LGBT, o Grupo Gay da Bahia e a Rebraca (Rede Brasileira de Casas de Acolhimento para pessoas LGBTIs). Para as organizações, o pastor cometeu crime de homofobia. Em 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu a homofobia e a transfobia no rol dos crimes de racismo até que o Congresso Nacional aprove uma lei específica.
Nildo Correia, presidente do Grupo Gay de Alagoas, disse que vai encaminhar uma representação contra o pastor ao Procurador Geral do Estado, Francisco Malaquias de Almeida Júnior. “Ele cometeu homofobia ao desejar a morte de Paulo Gustavo pelo simples fato de o artista ser gay”, afirmou.
Correia também adiantou que vai comunicar a direção da Assembleia de Deus nacional e a do estado de Alagoas sobre a conduta de Olímpio. “Acreditamos que a instituição não deve comungar com a postura dele como membro”, disse o ativista.
O F5 entrou em contato com a Igreja Assembleia de Deus neste domingo (18), mas não localizou nenhum representante para comentar o caso. Pedidos de resposta foram deixados nos e-mails da instituição religiosa.
A reportagem também procurou o pastor José Olímpio, que apagou a postagem original contra o ator Paulo Gustavo e alterou seu perfil nas redes sociais. O líder religioso ainda não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.
BATALHA PELA VIDA
Nesta última terça-feira (13), completou-se um mês da internação de Paulo Gustavo, 42. A informação foi divulgada pela assessoria de imprensa do artista dois dias depois, no dia 15 de março. Na ocasião, o marido dele, Thales Bretas, disse que ele estava melhorando e agradeceu o carinho dos fãs. Pouco mais de uma semana após a internação, no dia 21 de março, o ator precisou ser intubado porque estava com dificuldade para respirar. Na época, foi divulgado que o procedimento era uma precaução e Bretas disse que era “mais um passo na cura da infecção”.
“[Paulo] foi sedado e entubado para que a cura consiga se estabelecer nos seus pulmões sem cansá-lo tanto com a falta de ar que o incomodava”, disse. “Estou calmo, confiante e tenho certeza de que será um passo importante para a melhora completa do nosso guerreiro!!! Ele que é jovem, saudável, sem comorbidades e supercuidadoso, está passando por isso.”
O ator respondeu bem ao tratamento e teve uma evolução positiva nos dias seguintes. Porém, no dia 2 de abril, o estado de saúde dele piorou. Ele acabou precisando mudar de tratamento e passou a respirar com a ajuda de ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea), uma espécie de pulmão artificial usado apenas em casos mais graves.
Dois dias depois, Paulo Gustavo precisou passar por uma pleuroscopia, para que a equipe médica pudesse verificar a condição de seus pulmões. Na ocasião, foi identificada uma fístula broncopleural, espécie de comunicação anormal entre os brônquios e a pleura. Ela foi corrigida.
Na quarta-feira (7), o marido de Paulo contou que o ator teve que receber uma transfusão de sangue. Segundo ele, devido ao ECMO, o paciente ficou “anticoagulado” e perdeu “um pouco de sangue”. “Por isso precisou tomar algumas bolsas de sangue”, explicou. Na mesma publicação, ele também incentivou as pessoas a irem doar sangue. Porém, dias depois foi realizada uma toracoscopia, na qual uma nova fístula broncopleural foi identificada e corrigida. De acordo com comunicado da assessoria de imprensa do humorista, o procedimento foi um sucesso.
No dia 11, o boletim médico dizia que a situação clínica do ator continuava crítica. “Todos os profissionais têm se empenhado incessantemente pela sua recuperação”, diz a nota publicada nas redes sociais.
“As diversas complicações pulmonares já demandaram procedimentos invasivos como broncoscopias, pleuroscopias e colocação de dispositivos intrapulmonares”, continua o texto. “Às fístulas broncopleurais identificadas e tratadas somaram-se a complicações hemorrágicas, mas que vêm respondendo, de certa forma satisfatória, à reposição dos fatores da coagulação deficitários.”
Os últimos boletins sobre o estado de saúde de Paulo Gustavo informavam apenas que o artista ainda continuava em estado grave. O ator é casado com o dermatologista Thales Bretas -eles são pais de dois meninos.
Fonte: Folhapress
As pessoas vivem num extremo, nervos a flor da pele.