O óleo de soja é o produto da cesta de itens pesquisados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) cujos preços mais recuam no acumulado de 12 meses, segundo levantamento da Folha de S.Paulo.
Em um ano, o produto acumula queda de 36,93% e está em deflação desde fevereiro deste ano, conforme dados do IBGE.
Em julho, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registrou inflação de 0,12% no mês, com o grupo de Alimentação e Bebidas contribuindo para suavizar a alta. E o óleo de soja foi o segundo produto do grupo que mais recuou no mês (-4,77%).
A queda é sucedida por picos de inflação no produto nos últimos três anos. Em 2020, o óleo de soja fechou o ano com uma alta acumulada nos preços de 103,79%.
No segundo semestre de 2021 a inflação do produto arrefeceu bastante, mas voltou a acelerar no primeiro semestre de 2022, chegando a uma alta acumulada em 12 meses de 32%.
Segundo Daniel Amaral, diretor de Economia da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), a disparada no ano passado aconteceu após uma perda na produção de óleo de palma na Malásia. Essa quebra de oferta global obrigou os países a recorrerem a outros óleos vegetais, como o de soja. Com o aumento da demanda, portanto, subiu o preço no mercado externo.
Como o Brasil é um grande exportador do óleo de soja, o país segue a paridade de preços internacionais, o que fez os preços do produto subirem também no mercado interno.
“Se o preço sobe ou desce lá fora, no porto o preço tende a variar de forma semelhante. E o óleo de soja é um dos mais importantes do mundo”, diz Amaral.
Outro fator que contribuiu para a valorização do produto foi a guerra na Ucrânia, que reduziu a oferta de outro óleo importante, o de girassol, o que também contribuiu para um aumento de demanda do óleo de soja.
De 2022 para 2023, contudo, houve a recomposição no exterior dos estoques totais tanto do óleo de palma como o de girassol. Além disso, houve um aumento também de óleo de soja no mercado, o que reduziu os preços do produto no mundo e no Brasil.
Aliado a isso, Amaral destaca uma influência da desvalorização do dólar frente ao real. Como o Brasil segue a paridade internacional, a depreciação do câmbio também leva a um recuo de preços no país.
O especialista diz que essa movimentação de preços no óleo de soja se deu nas vendas do atacado, mas elas impactam também os preços nas refinarias e, automaticamente, para o consumidor final.
Efeito Argentina
O diretor financeiro e de relação com investidores da Boa Safra, Felipe Marques, ressalta ainda o efeito da crise econômica na Argentina sobre os preços do óleo de soja.
O país é um grande exportador do produto e, com a crise, houve um recuo no fornecimento global do óleo de soja pelo país vizinho em 2022.
Nessa época, a Boa Safra, que é uma grande produtora de sementes de soja no Brasil, observou que a indústria de crushing, que transforma a soja em farelo e óleo, estava pagando um valor alto pelo grão. Com isso, os ganhos com o óleo de soja chegaram a ser maiores do que com a própria soja em si.
Agora, contudo, com o aumento da oferta global de óleo de soja, houve um recuo nos preços e, consequentemente, nos valores pagos por essa indústria para a compra da commodity, segundo Marques.
“Essa indústria não está mais pagando um prêmio alto porque o mercado não está mais demandando como antes, então ele não consegue pagar um preço mais alto por essa soja que se origina no Brasil e depois vai para a exportação”, explica o diretor da Boa Safra.
A queda da saca de soja, insumo do óleo, é outro fator que colabora para um recuo no preço do produto. Marques lembra que a saca chegou a custar R$ 180 e hoje está batendo em torno de R$ 120.
Essa redução acontece devido à expectativa de uma boa safra de soja nos Estados Unidos, e também devido ao resultado positivo da safra no Brasil, o que aumenta a previsão de oferta da commodity no mercado.
De janeiro a março deste ano, o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil teve alta de 1,9% ante o quarto trimestre de 2022, com a liderança da agropecuária. E a soja puxa o setor, com previsão de safra recorde neste ano.
Isso ocorre devido à questão climática. “Nas safras de 2020/2021 e de 2021/2022, o Brasil e outros países tiveram problemas climáticos que frustraram as expectativas iniciais de produção da oleaginosa. Mas o quadro mudou na safra de 2022/2023”, diz Felipe Fabbri, analista da Scot Consultoria.
Fonte: Folhapress/Stefani Rigamonti